"" Jorge Alamar ⇉ Redação do Enem: A linguagem correta da redação no Enem

A linguagem correta da redação no Enem

Como a argumentação pretende influenciar, por meio do discurso, o grau de aceitação de algumas teses dentro de um grupo, o conhecimento do auditório é fundamental para o bom resultado do trabalho. O sucesso do enunciador depende de sua habilidade na escolha dos procedimentos mais adequados ao público a quem se dirige, conseguindo um contato intelectual com sua audiência. Para que se consiga esse grau de sintonia, que, como vimos, é o ponto de partida de toda argumentação, é preciso garantir que algumas condições sejam satisfeitas. Essas condições podem ser agrupadas em quatro itens, vistos a seguir.

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Não existirá diálogo se enunciador e público não tiverem predisposição e interesse para respeitar as opiniões alheias, admitindo discutir e, eventualmente, até alterar suas ideias. O público deve reconhecer a competência do enunciador e este precisa demonstrar apreço pelos valores da audiência.
A Fuvest, na segunda fase do vestibular de 2002, usou como texto para a questão 3 da prova de Língua Portuguesa um fragmento do poeta Mário Quintana que exemplifica com clareza a necessidade desta condição para que se desenvolva a argumentação:

Diálogo ultrarrápido
— Eu queria propor-lhe uma troca de ideias...
— Deus me livre!


O título de Quintana, na verdade, é irônico, já que a situação é de absoluta indisposição para dialogar, pois não existe respeito pela figura do primeiro enunciador nem apreço por suas ideias. A ironia aqui pretende criar um efeito de humor.

Cabe ao enunciador utilizar-se da linguagem mais adequada ao público que quer atingir. É evidente que ninguém poderá ser convencido se antes não puder apreender os argumentos que estão sendo expostos. A linguagem, portanto, deve ser acessível, mas também deve inspirar o respeito do público.
Um médico, se quiser convencer um paciente de menor grau de escolaridade a alterar seus hábitos (por exemplo, a sua dieta alimentar), não deve justificar-se utilizando o vocabulário técnico da Medicina. Se assim o fizer, o doente provavelmente não entenderá as razões que tornam aquela mudança de comportamento necessária e não seguirá as recomendações.

Como já dissemos, é a necessidade de defesa dos valores comuns que move o auditório a alterar suas opiniões e atitudes, seu crer e seu fazer. O completo desacordo quanto aos valores, portanto, inviabiliza qualquer argumentação.

Seria inútil argumentar em favor dos direitos dos escravos diante de um proprietário rural do século XVIII para quem os negros fossem animais selvagens e irracionais.

O repertório cultural é que irá possibilitar a compreensão dos argumentos, permitindo julgar seu grau de pertinência, ou seja, o quanto eles têm a ver com a questão em discussão. Se o auditório não puder fazer essa relação com a realidade vivida, a argumentação não surtirá o efeito pretendido.

Um físico que faça uma longa exposição sobre as minúcias da Teoria do Caos, mesmo que use uma linguagem cotidiana, não conseguirá reter a atenção de seu auditório se não relacionar suas ideias a experiências do dia a dia, exemplificando possíveis aplicações dessa teoria na explicação e no controle de fenómenos que todos podem observar.

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